Agrofloresta no Nordeste do Pará

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Derrubar a mata, cultivar mandioca, queimar o terreno e plantar de novo. A prática, é quase uma regra para os agricultores da Amazônia.

Atendendo a um convite feito pelo José Sebastião Romano de Oliveira, de Irituia, no Pará, os repórteres Camila Marconato e Sandro Queiroz conheceram agricultores, que para fugir da pobreza, se tornaram uma exceção a essa regra e mudaram o rumo de suas vidas.

“Bom dia Zezinho Romano de Oliveira, Sr. João Moura, Pedreco Araújo e bom dia também para todos os agricultores do pólo do Rio Capim, no nordeste do Pará.

Essa gente está provando que é possível e saudável viver da floresta, dentro da floresta. Sr. João Moura vai mais longe dizendo que é a própria floresta que ensina como fazer esse convívio.

Se ela é diversificada, diz o Sr. João, então o agricultor tem que diversificar. Se a floresta é paciente, paciência então. Se ela é generosa é preciso retribuir a generosidade e assim por diante.

E você vai reparar como os agricultores de pólo do Capim falam e se expressam bem, ou seja, a consciência ecológica, felizmente, está chegando onde mais ela precisa estar: junto das árvores. ”

Primeira Parte

Segunda Parte

Links:

http://globoruraltv.globo.com/GRural/0,27062,LTO0-4370-335347-1,00.html

http://globoruraltv.globo.com/GRural/0,27062,LTO0-4370-335348-1,00.html

Transcrição:

Primeira Parte:

Derrubar a mata, cultivar mandioca, queimar o terreno e plantar de novo. A prática, é quase uma regra para os agricultores da Amazônia.

Atendendo a um convite feito pelo José Sebastião Romano de Oliveira, de Irituia, no Pará, os repórteres Camila Marconato e Sandro Queiroz conheceram agricultores, que para fugir da pobreza, se tornaram uma exceção a essa regra e mudaram o rumo de suas vidas.

É noite de festa em Irituia. A grande atração fica sob a tenda montada em frente ao palco. Somos recebidos pelo agricultor e professor José Sebastião Romano de Oliveira, o Zezinho, que escreveu para o Globo Rural.

Que festa é essa que está acontecendo aqui? “Aqui hoje é a festa do Carimbó. O carimbó é uma dança típica do Estado do Pará, que representa a cultura, principalmente da raça negra, africanos, que se adaptou muito bem com os nativos da região”, explica Zezinho.

O Festival do Carimbó atrai gente de todo canto. Pares e até grupos vão se formando. Eles giram em torno de si mesmos, fazendo um grande círculo. Sempre no ritmo imposto pelo tambor dos mestres do Carimbó.

No dia seguinte, a imagem já não é tão animada. Estamos no Pólo Capim, nordeste do Pará, uma das regiões mais pobres e degradadas do Estado. O Rio Capim dá nome e corta os quatro municípios que formam o Pólo: são Domingos do Capim, Concórdia do Pará, Mãe do Rio e Irituia. As grandes madeireiras deixaram a região porque quase não há mais floresta por aqui. A paisagem é dominada por capoeiras, olarias e muito pasto.

No pólo do Capim, além da pressão exercida pelas pastagens e mais recentemente pelas olarias, há também o cultivo da mandioca no sistema derruba e queima, prática secular que empobrece o solo e obriga o agricultor a abrir novas áreas para continuar plantando.

O agricultor, Francisco Ribeiro Castro trabalha assim desde que se entende por gente. “A gente põe o fogo, ela queima, quando queima bacana é só plantar”. Dá para plantar quantas vezes até o solo esgotar? “Olha, até três vezes. Se o cara dá duas vezes a mandioca dá boa, aí das três vez para frente se não botar adubo, ela não presta mais”. Porque o solo ficou pobre e tem que abrir nova área? “Tem que abrir nova área” O senhor vive aqui com muita dificuldade ou não? “Olha agora mesmo eu não estou vivendo com muita dificuldade porque eu já me aposentei pela idade, de velho” Como era sua vida antes da aposentadoria? “Era meio difícil porque chegava não ter o que comer”, relembra.

Osvaldo Kato, agrônomo da Embrapa Amazônia Oriental, explica que o “derruba e queima” é mais prejudicial ainda porque os agricultores não respeitam o tempo mínimo de dez anos, recomendado para o repouso do solo. “Tem gente que passa até com três anos, voltando para mesma área para fazer o cultivo. Além da diminuição do acumulo de nutrientes, porque a capoeira cresce menos, a gente tem essas perdas que ocorrem durante a queima. O nitrogênio, por exemplo, ele é volátil, a gente perde praticamente todo nitrogênio que esta retido na biomassa. O potássio e o fósforo também ele está perdendo quase que a metade”, afirma.

Agora, o que isso tudo tem a ver com o convite feito pelo Zezinho ao Globo Rural? Bom, o Zezinho é filho do Sr. Geraldo de Oliveira, falecido ano passado. Sr. Geraldo integrou um grupo de agricultores que há quase 40 anos, sem assistência nenhuma, conseguiu deixar o “derruba e queima” e arranjar outro jeito de produzir e sobreviver.

Depois da perda do pai, o Zezinho decidiu escrever para gente. “Era o sonho dele por exemplo, que alguém um dia viesse conhecer a experiência dele e ele não perdia o Globo Rural, dia de domingo, o Globo Rural era sagrado”, relembra.

Sr. Geraldo nasceu e morreu aqui, tocando o sítio. Sua maior preocupação sempre foi garantir sustento e educação para os filhos. “O que ele passou, as mazelas da fome principalmente, ele jurou que o filho não passaria, eu nunca passei”. Agora, é muito contraditório falar em fome numa região amazônica. “É uma tristeza, uma região tão rica, riquíssima de biodiversidade podemos dizer, nós termos pessoas pobres e até mesmo miseráveis”.

Zezinho hoje toca o sítio de 19 hectares com o irmão Elejam. Ele também é professor, formado em Geografia, já está virando doutor em sistemas agroflorestais, termo técnico usado para denominar o sistema de produção que o pai dele e outros agricultores da região começaram a implantar, mesmo sem saber.

A característica mais marcante dos sistemas agroflorestais é diversificação das espécies, principalmente de frutíferas nativas. A iniciativa que no começo visava apenas melhorar a alimentação das famílias se tornou alternativa de renda e uma grande prestação de serviços ambientais. Os agricultores eliminaram o uso do fogo, reflorestam áreas degradadas. Com isso, protegeram o solo e as nascentes, contribuindo para o aumento da biodiversidade.

É um sistema bom para região? “Eu não te digo que seria um modelo ideal, mas é uma alternativa viável sim e cada agricultor tem sua estratégia, cada um faz de um jeito diferente”, conta Zezinho.

A idéia é enriquecer a floresta com espécies de valor econômico. Aqui, Sr. Geraldo cultivou pés de castanha, cupuaçu, bacuri, pupunha, açaí. “Neste período do ano a atividade maior aqui é o cupuaçu e a castanha. Cada época do ano tem uma produção diferenciada”. Cupuaçu come assim ‘in natura’ ou faz alguma coisa com ele? “Pode comer ‘in natura’, faz doce, faz creme, faz sucos, faz geléia. É bem ácido, azedinho. Melhor comer em doce, é bem azedo, mas é bem gostoso” E aqui tem mercado para o cupuaçu? “Bastante, aqui desta área principalmente tem época que a gente coleta 400, 500 quilos de polpa”, conta.

O xodó da família é mesmo a castanheira plantada pelo pai há 35 anos. E esse aqui já é ouriço dela? Tanto castanha como cupuaçu pega esses que estão no chão. Quanto tempo uma castanheira leva para produzir? “Se for no habitat natural dela, concorrência com todas as outras árvores, 12 à 15 anos, mas como ele plantou em aberto, não teve concorrência de luz, aí ela produz mais rápido, mais ou menos sete anos”.

O Zezinho trabalha hoje para ajudar a difundir os conceitos da agrofloresta. Além de capacitar outros agricultores da região, ele dá cursos para professores da rede pública de ensino.

Na região, a prática da monocultura, no caso a mandioca, não gera apenas degradação ambiental, gera também pobreza. É muito comum, por exemplo, ver jovens deixarem o campo em busca de melhores condições nas cidades. “Se todo aluno aprender, não só o que mora na região rural, como na urbana, ele também vai fazer do próprio quintal dele, um sistema agroflorestal, dentro de uma pequena área”, afirma a professora Maria da Conceição de Oliveira e Silva.

“A nossa região amazônica ela é muito ampla, só que os alunos eles tem uma noção de que nós não estamos na região amazônica e com esse curso que veio agora, nós temos a oportunidade de passar para os nossos alunos, que nós também somos um pedacinho da Amazônia”, complementa o professor, Antônio Aílton Lima de Oliveira.

Zezinho conta sempre com ajuda preciosa. Esse aí é o Sr. João Moura, um agricultor “inovador”.


Segunda Parte:

Vamos voltar ao pólo do Rio Capim, uma das regiões mais degradadas da Amazônia paraense.

Na segunda parte da reportagem você vai ver o que aconteceu na vida de duas famílias depois que elas decidiram reflorestar suas áreas e diversificar a produção.

No meio da floresta, o agricultor João Moura se sente em casa. Ele reservou até um cantinho para receber gente interessada em conhecer seu trabalho.

Tocos de árvores viram bancos da sua sala de visita. As copas dão sombra e frescor. Sr. João, quem ensinou para o senhor esse conhecimento das árvores, dos frutos aqui da Amazônia? “Olha, nós temo do lado de um grande professor que é a mata e a mata ela ensina a gente a plantar e ensina a gente a manejar, como fazer”, afirma.

A propriedade do Sr. João tem 62 hectares, 30 de capoeira, de áreas degradadas onde a floresta ensaia uma renovação. Outros 30 são de floresta preservada. Sobram dois hectares para manejo.

Em um espaço, e sempre imitando a natureza, Sr. João prefere cultivar espécies nativas da Amazônia: castanha, pupunha, açaí, cupuaçu, ipê, cacau. Mas tem também algumas trazidas de fora: biriba, banana, café.

Tanta coisa, que, à primeira vista, fica difícil entender como funciona, mas ele explica. “Nós vamos considerar uma salada. Eu plantei aqui 41 espécies dentro disso aqui, uma para sustentação das outras. Na verdade, árvore que gosta de sol, árvore que não gosta de sol”, explica.

As que gostam de sol foram plantadas primeiro. Depois, vieram as que crescem à sombra das pioneiras. Enquanto esperava a agrofloresta se formar, Sr. João cultivou espécies de rendimento econômico e que produzem em pouco tempo, como o abacaxi e a goiaba, por exemplo. São elas que dão o sustento nos primeiros anos.

“Mas nem toda foi para produzir fruto e sim matéria orgânica, nós trabalhamos aqui diretamente com esse adubo que nós temos aqui”. Essas folhas que o senhor joga aqui que parece descaso, é estratégia? “É, na verdade, tem agricultor que ainda chama de lixo, mas na verdade a natureza, não dá lixo, ela dá resíduo”, ensina.

Pensando nisso, Sr. João não dispensa seus pés de café. “O café na verdade ele é um criador, porque é uma árvore que dá muita folha e cresce muito rápido”. O interesse do senhor não é vender café? “Não, ele está aqui para criar e daí para gente não perder, nós vamos tirar e consumir. Nós tiramos duas sacas por ano de café, essa saca dá para passar o ano todo”, conta.

É assim que a floresta amazônica se mantém, já que a maior parte do solo da região é considerada pobre. Sr. João cuida muito bem dos seus dois hectares manejados, mas a “menina dos olhos” é mesmo a reserva de 30 hectares, cheia de bacuriaçu, breu vermelho, faveiras. São mais de 300 espécies nativas. Agora, o pessoal assedia o senhor para pegar essas madeiras? “Com certeza, assedia bastante, mas na verdade a gente não vende de jeito nenhum. A gente tem passado para o pessoal hoje qual a importância em se ter uma reserva. Você tem dinheiro e tem ar puro, tem sequestro de carbono, tem medicina, você tem várias coisas dentro de uma reserva. E tem dinheiro, porque quando jogar bacuri, porque joga aqui bacuri, você junta, vende o bacuri, vende a polpa, vende o bacuri em fruta. Quando você for em uma copaíba dessa aqui que tem óleo, você vende, então é dinheiro que vai para o bolso que chama-se de recurso natural”, explica.

Sr. João é um apaixonado. Trabalha muito para dar conta de produção tão diversificada. A vida ainda é dura, mas muito melhor do que era. “Olha esse mês, tirando daqui do pomar da propriedade da gente, a gente vai fazer uns R$ 400 a R$ 500”. E esse dinheiro o senhor ganhava mais só com mandioca ou é mais agora? “Não, agora a gente ganha mais, a mandioca na verdade, ela é um produto que é o conhecido no Brasil, no mundo todo, mas ainda é um produto com muito trabalho e pouco lucro para o agricultor”, conta.

Sr. João ainda mantém uma pequena área com mandioca para fazer farinha. O que ele evita agora é botar fogo no terreno, assim como quase todos os agricultores que trabalham nesse sistema de agrofloresta.

Sr. João é casado. “Essa aqui é a Santina, minha esposa”, apresenta. Na casa reformada, os frutos da mudança de rumo na vida. “Tem televisão, tem geladeira, tem parabólica”. Tudo novo, esperando a energia elétrica que está para chegar. “Alguém perguntou pra mim se eu estou muito ansioso com a energia, com certeza, nós temos com essa idade que nós temos e nunca tivemos energia, claro que nós estamos ansioso sim com essa energia”.

Ansiedade que ele compartilha com a mulher, os três filhos e dois sobrinhos. A ânsia é de aprender mais, se informar. Sr. João acha que a televisão pode ajudar em seus projetos. “Esse livro que nós vamos trabalhar aqui é um livro para 200 e poucas páginas”.

Sr. João sonha em publicar um livro com a ficha de todas as árvores da Amazônia que conhece, apesar do pouco estudo, ele concluiu a quarta série há dois anos. Com a ajuda da sobrinha, já catalogou 214 espécies. O senhor está chique, escrevendo até livro? “Não, é porque há uma necessidade, quantos agricultores não temos aqui que vivem na roça, nasceu e criou e num sabe o nome de 20 árvores. Conhece a mata, que isso aqui é um pau, mas num sabe o significado, as vezes ele derriba, ele queima, porque ele não tem o significado que ele tem, não sabe nem o que ele tem”, explica.

Sr. João agora se despede para vender o que colheu hoje na feira da cidade e nós deixamos Irituia com destino a São Domingos do Capim, onde vive um outro agricultor que também trabalha com agrofloresta. Fim da linha. Para conhecer o Sr. Pedreco, nós vamos ter que seguir a pé.

O Zezinho, que escreveu para gente, indica o caminho. Sr. Pedreco é Pedro Araújo. A propriedade dele e da família fica na margem do Rio Capim: uma área muito preservada. Repare como até a casa fica cercada por árvores.

É uma das agroflorestas mais visitadas e premiadas da região. Tornou-se referência até para instituições de pesquisa e organizações não governamentais, que passaram a dar alguns cursos para os agricultores do pólo do Rio Capim.

Acompanhamos a família que se prepara para colher o açaí. O cachorro vem também, é parte da família. No caminho, notamos uma área bem manejada, solo coberto, aberturas estratégicas para entrada da luz solar. Essa área aqui ela parece assim uma florestazinha, uma mata que seja nativa, mas não é, ela foi construída já por nós, foi uma que foi bem descampada no início. Essa lavoura está com seis anos, tem 23 espécies só dentro dessa área aqui.

Bem próximo dali, uma árvore chama nossa atenção. É a Samaumeiras que eles chamam aqui. A madeira dela que é boa? “A madeira dela é boa, mas para nós aqui da propriedade a utilidade maior dela é a água e a folhagem”. Na sua visão de mundo, derrubar uma árvore dessa nem pensar? “Nem pensar”. Nem se te oferecessem dinheiro? “Não, não tem dinheiro que faça eu tirar essas árvores daqui de dentro da minha propriedade”. É uma funcionária para o senhor? “É e não me cobra nada por isso. Trabalha para mim de graça, para mim não, para nós todos porque só o ar que ela dá para gente respirar”.

A Samaumeira é tão larga e alta que nossa câmera não consegue dimensionar. Para se ter uma idéia, cabemos todos num dos vãos do tronco. Chegamos finalmente na área de açaí que está no ponto de colheita. Como a palmeira está escorregadia, fica decidido que só Sr. Pedreco e o filho mais velho, o Júnior, de 17 anos, vão subir para coletar os frutos.

Nos pés, eles usam um tipo de laço, chamado peçonha, feito de pedaço de saco ou com a própria fibra da palmeira. A tarefa exige habilidade e prática.

A mãe e os filhos mais novos debulham os cachos e selecionam os frutos. Uma lata de 15 quilos de açaí limpo é vendida por R$ 20, R$ 25. Sem a seleção, a mesma lata sai por R$ 12, R$ 15.

Normalmente vem todo mundo ou veio todo mundo hoje por causa da reportagem, aqui para colheita, para trabalhar com o açaí e as outras coisas? “Não, os nossos filhos participam de todas as atividades, lógico que não influencia quando estão na escola, tirando o tempo deles da escola, quando estão em casa, todos vem para propriedade”. E todos vão para escola? “Todos vão para escola também, vão de barco. Sai de casa 5h30 e volta 12h”, conta a agricultora Zinalva Araújo.

Quando você crescer quer continuar aqui? “Quero, porque aqui é silêncio, a gente vê o cantar dos pássaros de manhã, aquela coisa legal. Lá na cidade não, a gente nem dormir direito não pode. Aqui é muito melhor”, afirma a filha do casal Tatiana Araújo.

“Eu não tenho vergonha de dizer que sou filho de agricultores, como muitos colegas meus têm vergonha de dizer que são filhos de agricultores, em qualquer lugar eu posso abrir a minha e dizer que sou filho de agricultor, com orgulho”, diz o estudante Pedro Araújo Freitas Júnior.

Sr. Pedreco é o filho mais velho de sete irmãos, criados só pela mãe. A família trabalhava com mandioca e passava muita necessidade. Aos 12 anos, ele decidiu sair de casa. Ganhou do avô um pedaço de terra. No começo, vivia dos frutos que colhia em propriedades vizinhas, de onde também tirava mudas para diversificar sua produção.

“Eu não queria que meus filhos passassem pelo o que eu tinha passado, pelo menos fome eu não queria que eles passassem, aí começamos a mudar o trabalho, diversificar o trabalho, para de cada coisa a gente ter um pouco. A gente não queria ter muito, a gente vai ter muita coisa para vender, não, a gente queria ter um pouco de cada coisa pra gente poder se alimentar e o restante a gente poder colocar no comércio para comprar aquelas coisas que a gente não produz”, afirma Sr. Pedreco.

O carro-chefe da propriedade é o açaí, mas a turma aqui cultiva também muitos outros produtos que ajudaram a alavancar a renda da família. O senhor sabe quanto o senhor tira por mês assim, mais ou menos? “A gente ganha bem mais do que um salário por mês, porque um salário não dá para manter toda essa família. E isso é muito bom”.

Para ganhar um dinheirinho a mais em 2002 a família passou a beneficiar parte dos produtos que eles cultivam aqui. Hoje, eles fabricam doces, salgados, xaropes, óleos e pomadas, de plantas medicinais, além do artesanato com palha e da biojóia, feita com semente extraídas da floresta. E pelo jeito está dando certo.

“A gente costuma falar que é como uma cuia embaixo da biqueira, várias gotas acaba enchendo a cuia”. O segredo do sucesso da propriedade é esse é a diversificação? “Exatamente, tanto na segurança alimentar, como na renda da família”, afirma Dona Zinalva.

No começo vocês não pensavam agrofloresta, recuperação da mata, contribuir para o meio ambiente? “Não porque há 20 anos atrás não tinha essa preocupação e muito menos aqui, onde não tinha um rádio para se ouvir, a gente tava longe da mídia. Então isso não se falava, e a gente não tinha esse conceito. O que a gente fazia era plantar, buscar alimento, a nossa luta era em busca e alimento para fugir da fome na verdade. Hoje nós temos, se dá o luxo de escolher aquilo que a gente quer comer. Antes tinha que comer o que tinha”, relembra.

Hoje, no Pólo do Rio Capim, 300 famílias já estão trilhando esse mesmo caminho. Elas estão descobrindo que quando o homem protege a floresta, a floresta retribui com generosidade.

Algumas famílias do Pólo do Rio Capim já começam a se unir em pequenas associações para trocar experiências, tecnologia e, no futuro, vender juntas a sua produção.

Fonte: Globo Rural – Rede Globo

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