Agroflorestas incrementam renda de famílias agricultoras, enriquecem dieta alimentar e conservam recursos naturais

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Ampliação significativa de renda, diversidade de mais de 100 produtos para autoconsumo e recuperação de 1 mil hectares (ha) dos recursos naturais  demonstram sucesso de modelo agroflorestal desenvolvido pela Cooperafloresta

Incremento de renda e produção de alimentos com fartura. Isso aliado à conservação e recuperação dos recursos naturais das florestas. Com os Sistemas Agroflorestais isto é possível. Os resultados são decorrentes da atuação do Projeto Agroflorestar, patrocinado pela Petrobras através do Programa Petrobras Ambiental, nas áreas de atuação da Cooperafloresta – Associação dos Agricultores Agroflorestais de Barra do Turvo/SP e Adrianópolis

As famílias agricultoras aumentaram, nos últimos 15 anos, em 12 vezes sua renda anual, por meio da ampliação e diversificação da produção. O resultado é decorrente de um processo continuado de organização, formação e assessoria técnica para o desenvolvimento das agroflorestas, certificação participativa e comercialização coletiva.  “Se trata de uma atuação ampla, já que os conceitos para o sucesso também o são”, ressalta o doutor Walter Steenbock – engenheiro agrônomo e pesquisador do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), que atua em parceria com a Cooperafloresta no Projeto Agroflorestar.

“Buscamos articular o resgate do conhecimento tradicional, à geração de pesquisas de forma participante e à difusão dos ensinamentos técnicos para, com isso, termos como resultado a geração de renda por meio da produção nas agroflorestas.  Mas, aliado a isso, resgatamos, em cada cultura presente neste bioma, o valor pessoal para o enfrentamento da exclusão social”, explica Steenbock.

“Tratamos com culturas diversas, como a dos Quilombolas, com conhecimentos tradicionais, que são fundamentais para o desenvolvimento daquele solo em questão, dos alimentos e das suas culturas ancestrais. Para tanto, os processos de organização das famílias, valorização dos seus sabores e sabores são fundamentais para o sucesso do modelo agroflorestal”, enfatiza o pesquisador e engenheiro agrônomo Walter Steenbock.

Exploração predatória – Agora, lembra Steenbock, “Paralelo a isso, temos a exploração predatória dos recursos naturais da Mata Atlântica e a perda do conhecimento sobre as  técnicas de manejo, assim como a dos benefícios potenciais desses recursos. Ao acompanhar a dilapidação do patrimônio genético da floresta, aliada à ausência de uma política voltada ao manejo sustentável, só temos de nos fortalecer para disseminar, cada vez mais, o modelo agroflorestal desenvolvido pela Cooperafloresta”.

Recuperação de 1 mil hectares (ha) de recursos naturais – A diversidade de produtos para a subsistência ampliou em cerca de 95% se comparado a quando praticavam a agricultura convencional  (monocultura), que também maximiza a renda com a redução de gastos externos. “E o mais importante – já que não se trata apenas das famílias que atuam hoje nas agroflorestas, mas do futuro de novas gerações: a recuperação de 1 mil hectares (ha) dos recursos naturais na área de atuação das 110 famílias associadas à Cooperafloresta”, frisa Steenbock.
“Além da conservação, a recuperação de recursos naturais é de extrema importância para a retomada da estrutura e dinâmicas do ecossistema natural e original do lugar”, lembra Walter Steenbock. A constatação é fruto das conclusões de estudos do georeferenciamento das áreas agroflorestadas e demais áreas em regeneração, associados com levantamentos da diversidade vegetal, da estrutura florestal e da dinâmica do carbono nas agroflorestas.

Sistema Agroflorestal – Pode parecer complicado, mas com poucas palavras, as famílias agricultoras traduzem este modelo: “Na agrofloresta você está plantando e colhendo ao mesmo tempo. Então está sempre gerando renda. O adubo, vem da própria natureza; as podas feitas corretamente, deixam os raios de sol entrar e dão força para as verduras crescerem. E o mais importante: tudo vai para sua própria família”, ensina o senhor Sezefredo Cruz, 70 anos, primeiro agricultor de Barra do Turvo (SP) a adotar o modelo agroflorestal da Cooperafloresta.“Depois da Cooperafloresta chegar aqui aprendi a me valorizar. Aprendi que, mesmo sem estudo, também sou doutor. Hoje, além de ser feliz, faço os outros felizes, pois preservo a natureza, a água, as árvores e produzimos alimentos de qualidade, sem veneno”, explica Sezefredo Cruz.

Modelo Agroflorestal – “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. A frase de Antoine Lavoisier (1743-1794), um dos primeiros cientistas a enunciar o princípio da conservação da matéria, já pronunciava as palavras explicadas pelo agricultor agroflorestal Sezefredo Cruz.  Para tanto, bastou especialistas da Cooperafloresta, de forma didática, em meados de 2003, a “ensinar a pescar e a vender o peixe”, conforme revela Cruz.
Partindo do princípio da transformação e aproveitamento de tudo o que há nas florestas, a primeira lição é a de que a formação de clareiras é de extrema importância para a maior quantidade e diversidade de vida. “Para isso, inicialmente é feita uma capina seletiva na qual são retirados, com as mãos, os capins do solo. Depois, busca-se plantar uma grande variedade de espécies, em elevada densidade. A partir de um planejamento adequado de que estrato da floresta cada planta vai ocupar, os períodos de tempo são definidos”, explica Steenbock
Nesta implantação da agrofloresta, o material vegetal pré-existente é cortado e disposto de forma ordenada e com arranjo definido no solo, sem a utilização de fogo. Ao longo do tempo, há um manejo intensivo da vegetação, especialmente na poda e na disposição do material podado no solo. Desta maneira, o aproveitamento da matéria orgânica pela vida do solo é ainda maior que nas clareiras naturais. A água entra melhor na terra, com muito alimento gerado pelas folhas, madeiras e raízes.
“Tudo favorece o aumento da quantidade e diversidade de animais e micróbios. A prática deste manejo tem gerado agroflorestas com elevada densidade de indivíduos, riqueza de espécies e um expressivo incremento anual de carbono no sistema, além de se constituírem nos principais espaços de geração de renda e segurança alimentar, entre outros benefícios”, frisa o pesquisador.

Cultivos em equilíbrio não se exaurem –“O modelo agroflorestal mistura espécies agrícolas e florestais em uma mesma área. Com isso, o uso da terra combinado é capaz de otimizar a captação de nutrientes do solo, bem como de promover a reciclagem de nutrientes do material vegetal (troncos, galhos e folhas) que são constantemente podados. No sistema convencional, de monocultivo, o solo geralmente chega  a um ponto em que fica completamente degradado e sem  nutrientes para produzir e manter as reservas naturais. Os cultivos em equilíbrio não se exaurem, mas colaboram entre si, mutuamente”.
“Mas se trata de um modelo de manejo que necessita de apoio, assessoramento técnico nos processos de organização, formação e, principalmente, na capacitação das famílias agricultoras. Além disso, planejamento dos sistemas agroflorestais, do beneficiamento, agroindustrialização, certificação e comercialização da produção. Esse tem sido o papel da Cooperafloresta, desde 1996”, lembra Walter Steenbock

A realidade  no cotidiano – “A Agrofloresta salvou a vida da minha família”, repete Sezefredo Cruz. Ele ainda faz questão de relatar que já havia desistido das suas terras e as colocado à venda. “No auge do nosso cultivo, tivemos 9 mil pés de banana aqui, mas tudo foi tendo fim. Usava adubo químico, queimada…não sabia de nada. Cheguei a colocar a placa de venda na frente”.Mas foi o Sistema Agroflorestal que fez do senhor  Sezefredo Cruz um dos maiores divulgadores do projeto da Associação. “No início não acreditei muito, mas após 3 meses da implantação da nova forma viver com as florestas já comecei a ver os resultados das técnicas de manejo que estavam me ensinando. O próximo passo foi tirar a placa de frente do meu sítio. Nossa vida mudou”, diz senhor Sezefredo Cruz, que hoje tem sua família toda envolvida no Sistema.

Respeito ao conhecimento tradicional – Além da nutrição adequada e valorização dos conhecimentos locais, o  respeito às diversas comunidades tradicionais é de fundamental importância nas Agroflorestas. “São as populações tradicionais que se desenvolveram ao longo de gerações adaptadas às condições ecológicas locais, que desempenham um papel fundamental na conservação da natureza e na manutenção da diversidade biológica de suas terras”, pontua o pesquisador Walter Steenbock. “Afinal, são os conhecimentos tradicionais que preservam as origens, cultura e história de um lugar, a exemplo do que está ocorrendo no Vale do Ribeira, com a Mata Atlântica sendo preservada pelas comunidades que ali habitam”, completa. Atualmente, 80% das famílias agricultoras da Cooperafloresta são quilombolas, que estão recuperando suas raízes, retomando suas origens e vivendo com respeito e dignidade.

Sobre a Cooperafloresta

A Cooperafloresta, fundada em 1996, atua diretamente com 110 famílias agricultoras e Quilombolas. Promove o fortalecimento da agricultura familiar assessorando os processos de organização, formação e capacitação das famílias agricultoras, planejamento dos sistemas agroflorestais, além do beneficiamento, agroindustrialização, certificação participativa e comercialização da produção.

http://cooperafloresta.org.br/

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